terça-feira, março 07, 2006

Comida


Tem algumas coisas que por mais que fujamos uma hora ou outra ela vem ao nosso encontro.
Acho que sempre fugi de tudo o que dizia a respeito de comida. Talvez pelas dificuldades que vejo os meus pais enfrentarem, talvez por rebeldia.
Confesso que ainda fujo, mas a cada dia que passa a comida se torna mais presente na minha vida.
Antes era comer e apreciar... Hoje é comer, sentir prazer, ficar cada vez mais com paladar aguçado, hoje sei exatamente o que não me faz gostar de um prato (leite de coco em exagero e tomilho) e fazer, experimentar, testar deliciosas receitas com um enorme prazer e vontade que antes não fazia parte da minha vida.
Hoje para mim, comer é compartilhar sonhar, conhecer, seduzir, criar laços e matar saudade.
Na comida relembro as pessoas que já se foram, os momentos vividos, as experiências, o paladar modificado. E assim chega a saudade, um aperto no estomago e no coração, em outras uma felicidade, às vezes até sinto um gostinho que não sei explicar como me vem à boca. Se sinto saudade e se ela é grande não consigo conter o choro.
Livros de receitas, não todos mais os especiais são como livros de contos de fadas que me fazem sonhar, com o dia que vou experimentar aquele gosto, cheiro e talvez porque não o sonho de um dia encantado, com uma história inesquecível a ser contada e a ser relembrada.
E sempre, sempre com gosto, cheiro e momentos inesquecíveis!

segunda-feira, março 06, 2006

ETERNO AMOR !


Já faz um bom tempo que estou ensaiando para declarar o meu grande amor pelo Rio.
É engraçada a minha relação com lugares, cidades, os seus cheiros e gostos, talvez por isso tenha escolhido a profissão.Cada lugar tem o seu cheiro, gosto, desejo recolhido e aberto, segredos e histórias.
Cidades para mim são a continuação de nossas casas, esconderijos e de nós mesmos.
O meu romance com o Rio começou platonicamente nas novelas do Manoel Carlos. Sim eu sou uma noveleira incorrigível, e Manoel retrata o Rio como ele só.
O balanço do mar, a maravilhosa praia de Ipanema, Santa Tereza, o maravilhoso e histórico Copa que ainda quero me hospedar, o samba, o colorido do morro, triste e pitoresco, o povo que sofre e que não perde o sorriso,sem esquecer das lindas histórias vividas na cidade maravilhosa.
O Rio também é cafajeste, malandro, nos faz ter ódio, mas com ele o amor e ódio estão lado a lado e não se deixa de amar nem por um minuto, assim que se apaixona se torna amor eterno.
E a mangueira então, nooossa nem se fala. Ao pé do morro e aquele barracão que cheira alegria, onde a negra da comunidade é top e as loiras burguesas perdem o seu brilho no meio daquela gente que é mais feliz no carnaval.
É lugar de gente que está sempre falando, sambando, funckiando, beijando e surfando.
É cidade de história, de docinhos da Cafeteria Colombo, de bossa em Copacabana, de Vinicius e Tom, de Cazuza , de filet com petit poá , de tanta coisa que nem sei o que é melhor.
E as comprinhas deliciosamente feitas na rua e de havaianas, lá você percebe que não deveria existir shoppings centers.
É claro que tem sim a sua melancolia, feiúra, amargura, tristeza. Quem não tem, todos nós temos o nosso lado
obscuro.Mesmo assim eu declaro o meu eterno amor pelo Rio,com suas qualidades e defeitos . Declaro também o meu desejo de me juntar ao mais breve ao me grande amor

sábado, março 04, 2006

A TODOS QUE NÃO FORAM E NÃO LIGARAM



Não resisti e ai vai esta carta da Fernanda Young. Mulher maravilhosa que eu admiro e quanto mais leio mais quero ler. Personagens loucos, comuns e normais assim como nós, seres mortais.
Quem nunca viveu esta situação terrivel de esperar e neste esperar, sentir no fundo que ninguém vai aparecer e nem ligar, que não aconteceu nada terrivel que é o que gostariamos para termos uma desculpa maravilhosa e uma solução para a dor e a desilusão que estamos sentindo.
Mas queridos se vc não passou por isto ainda , com certeza pode passar e se passou pode passar novamente e talvez aconteça com a pessoa mais maravilhosa que vc encontrou na sua vida. A dor vai ser terrivel, a desilusão então... Nooosssa!!! E os sonhos que vc criou na mente e no coração e que ainda não deu tempo de realizar com este ser que te deixou na mão, estes vão explodir no infinito e desaparecer para o todo sempre.
Vc vai sofrer, chorar e pensar que até pode morrer. Mas as lágrimas secam, a tristeza passa e a vida continua.
"Bom, você não foi. E não ligou. A mim só restou lamentar a sua falta de educação. Imaginando motivos possíveis. Será que você não foi porque realmente não pôde ou simplesmente não quis? Será que não ligou para não me magoar ou justamente o inverso isso? Estou confusa, claro. Achava que você iria. Tanto que eu aguardei sua chegada por mais minutos do que deveria, inventando desculpas esfarrapadas para mim mesma. O transito, o horário, a meteorologia. Qualquer pneu furado serviria. E até o ultimo instante, juro, achei que você chegaria a qualquer momento. Pedindo perdão pelo terrível atraso. Perdão que você teria, junto com uma cara de quem está acostumada, e assim encerraríamos o assunto. Mas você não foi. Esperei outro tanto pelo seu telefonema, com todas as esclarecedoras explicações. Para cada razão que houvesse, pensei numa excelente resposta. Para cada silêncio, nu suspiro. Para cada sensatez de sua parte, numa loucura específica da minha. Se você tivesse ligado do celular, eu seria fria. Se tivesse ligado do trabalho, seria levemente avoada. Se a ligação caísse, eu manteria a calma. Foram muitos dias nessa tortura, então entenda que percorri todas as rotas de fuga. Chegue a procurar notícias suas pelos jornais, pois só um obituário justificaria tamanha demora em uma ligação. Enfim, por muito mais tempo do que desejaria, mantive na ponta da língua tudo o que eu devia te dizer; e tudo o que você merecia ouvir, e tudo. Mas você não ligou. Mando esta carta, portanto, sem esperar resposta. Nem sequer espero mais por nada, em coisa alguma, neta vida, para ser sincera. No que se refere a você, especialmente, porque o vazio do seu sumiço já me preenche; tenho nele um conforto que motivos não me trarão. Não me responda, então, mesmo que deseje. Não quero um retorno; quis, um dia, uma ida. Que não aconteceu, assim deixemos para lá. Estaria, entretanto, mentindo se não dissesse que, aqui dentro, ainda me corrói uma pequena curiosidade. Pois não é todo dia que uma pessoa não vai e não liga, é? As pessoas guardam esses grandes vacilos para momentos especiais, não guardam? Então, eis a minha única curiosidade; você às vezes pensa nisso, como eu penso? Com um suave aperto no coração? Ou será que você foi apenas um idiota que esqueceu de ir? (fonte: Revista Cláudia/ Fevereiro/2006 ¿ texto de Fernanda Young)